Essa foto de James Meredith
sendo baleado por um atirador de elite chamado Aubrey James Norvell valeu um
Prêmio Pultizer.
James Meredith foi o
primeiro afro-americano a se formar pela Universidade do Mississippi.
A
Universidade proibia a entrada de negros, mas uma decisão da Suprema Corte dos
EUA havia proibido a segregação em escolas que recebessem verbas públicas.
Mas
Meredith e a equipe legal da NAACP (National Association for the Advancement of
Colored People, ou "Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de
Cor") sabiam que não bastava mudar a lei, era preciso forçar a sua aplicação.
Em 1961, Meredith tentou se matricular duas vezes na Universidade do
Mississippi, sem sucesso, apesar de suas ótimas notas.
O advogado contratado em
seu nome pela NAACP, recorreu à Justiça alegando práticas segregacionistas, e o
caso chegou à Suprema Corte.
O governador do Mississippi,
Ross Barnett, estava disposto a impedir Meredith de se matricular, inclusive
patrocinando um projeto de lei na assembléia legislativa do Mississippi feita
sob encomenda para barrá-lo, mas o Ministro da Justiça dos EUA, Robert Kennedy,
interveio com Barnett para impedi-lo de mudar a lei, que proibiria pessoas
condenadas pelo Código Penal de Mississippi de entrarem em escolas estaduais
(Meredith havia sido condenado por ser negro e pedir registro de eleitor, o que
era proibido no Mississippi).
A Suprema Corte decidiu a
favor de Meredith e no dia primeiro de outubro de 1962, ele fez História e
entrou para a Universidade do Mississippi.
Os brancos locais fizeram uma
insurgência e o Presidente da República John F. Kennedy enviou 500 homens do
Serviço Federal para conter a revolta, e para reforços chamou a Guarda
Nacional e a Polícia do Exército, o 503o, O Batalhão da Polícia Militar e a
Patrulha da Fronteira.
Duas pessoas morreram--inclusive um jornalista
francês-- 160 agentes federais e 40 soldados e membros da Guarda Nacional
foram feridos.
James Meredith superou o
racismo dos colegas de universidade e se formou em ciência política. Aprofundou
os estudos na Universidade de Ibadan na Nigéria.
Voltou aos EUA em 1965 para
participar do movimento pela aplicação da Lei do Direito ao Voto, daquele mesmo
ano.
No dia seis de junho de 1966, ele começou uma marcha solitária de Memphis,
no Tennessee, para Jackson, no Mississippi, anunciando que pretendia se
registrar como eleitor, como a nova lei permitia.
Eram mais de 220 milhas que
ele pretendia percorrer a pé para chamar a atenção da comunidade afro-americana
e encorajá-la a enfrentar as ameaças-- inclusive de morte-- que sofriam toda
vez que tentavam se registrar como eleitores.
A certa altura da marcha ele
próprio levou um tiro de Aubrey James Norvell.
A sua agonia, registrada nas
lentes de Jack R. Thornell numa foto que lhe valeria o Pulitzer no ano
seguinte, ganhou as manchetes de todo o país e imediatamente a SCLC (Southern
Christian Leadership Conference, ou "Conferência de Lideranças dos
Cristãos do Sul") de Martin Luther King Jr. e a SNCC (Student Non-Violent
Coordination Committee, ou "Comitê Não-Violento de Coordenação Estudantil)
de Stokely Carmichael, bem como o Human Rights Medical Committee ("Comitê Médico
de Direitos Humanos"), Cleveland Sellers e Floyd McKissick se juntaram à
marcha para terminar o trajeto que Meredith começou.
Com o tempo, pessoas de
todo o país, negras e brancas, se juntaram à marcha, que ficou conhecida como
Marcha Contra o Medo.
A Marcha Contra o Medo
enfrentou vários obstáculos.
Alimentados por mutirões e dormindo em
acampamentos, seus integrantes ganharam as páginas dos jornais e viraram
notícia internacional.
Carmichael chegou a ser preso em 16 de junho, em
Greenwood no Mississippi, por supostamente invadir propriedade pública; após
algumas horas na cadeia ele voltou à marcha, que havia parado para fazer um
comício, e nele fez seu célebre discurso "Black Power", que
popularizou a expressão.
Em Canton, no Mississippi, a polícia estadual atacou a
marcha, inclusive com gás lacrimogênio, deixando dezenas de feridos, um em
estado grave.
Os feridos foram acolhidos pelas freiras de uma escola católica
nos arredores.
James Meredith sobreviveu ao
tiro e, como se não bastasse, recebeu alta do hospital a tempo de se juntar à
Marcha Contra o Medo na véspera de sua chegada a Jackson, no dia 25 de junho.
Naquela altura, a marcha já contava com 15 mil manifestantes.
Eles foram
recebidos por um show gratuito de James Brown.
Pelo menos quatro mil eleitores
negros do Mississippi foram direto da marcha para obter seu registro eleitoral.
James Meredith ainda está
vivo e tem 83 anos.
Um personagem feito de carne e osso e coragem o bastante
para dar a cara à tapa e enfrentar o racismo.
No processo, reuniu ao seu redor
as forças sociais que fizeram dele o epicentro de dois episódios históricos na
luta contra o racismo.
Hoje, há uma estátua em sua homenagem na Universidade do
Mississippi.
O combate ao racismo é um combate autêntico, porque não depende se
super-heróis para ser travado.
Não cabe sequer às personalidades mais famosas
como Martin Luther King, Jr. e Malcolm X.
Depende de maneira mais decisiva da
participação de todas as pessoas de carne e osso, conquanto tiverem coragem
para dar a cara à tapa.
post: Marcelo Ferla
fonte: Pense, é grátis.
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